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quinta-feira, 20 de abril de 2017

CRÓNICA: O FOLAR QUE SOUBE A POUCO

Podia estar agora a debitar palavras sem fim para contar de fio a pavio a minha segunda participação no Rali Rota do Folar, de início ao fim, com todas as peripécias, incidências e "estórias" disto dos ralis. Mas isto dos ralis tem grandes imponderáveis e por isso o Rali Rota do Folar deste ano acabou mal começou. Mas vamos por partes.
Em 2016 tive a oportunidade de disputar este rali, descobrindo paisagens e troços espetaculares e convivendo com as gentes de Vilarandelo e de Trás-os-Montes, que tão bem nos sabem receber. Este ano, por força dos calendários desportivos, esta bonita prova ficava de fora dos planos.... ficava, até ter tocado o telefone: "Olá Miguel, qual seria a tua disponibilidade, boa vontade e coragem para me vires navegar no sábado a Valpaços?" O convite surgia quando menos esperava vindo do piloto, conterrâneo e amigo José Carvalhido. Após muito pensar, muita análise à proposta que tinha em mãos, ao fim de 2 segundos de ponderação, acedi e disse "sim, vamos lá! Conta comigo!"
Estava lançado o mote para nova aventura. Voltar àquele rali é sempre um aliciante e este ano, com a sua estrutura renovada, a motivação ainda era maior. Mas confesso: o desafio que o Zé Carvalhido me estava a lançar, esse sim, dava-me motivação extra porque além da oportunidade de ajudar um amigo e apaixonado pelos ralis, considero que aquela equipa se rege pelos mesmos parâmetros que eu nos ralis: a diversão, o convívio, o desportivismo e o "amor à camisola" e esses são os ingredientes necessários para eu me sentir em casa.
À hora marcada lá nos encontramos e seguimos viagem até Vilarandelo, terra de gentes que sabem como bem receber. Aqui abro um pequeno parêntesis para destacar o formidável convívio que o Clube Automóvel de Vilarandelo organiza todos os anos com os intervenientes no rali, proporcionando aos presentes um farto repasto de produtos locais que nos dão vontade de ir viver para sempre para aquela bonita região. De destacar também a simplicidade e simpatia das gentes locais, sempre disponíveis para ajudar, sempre prontas para receber da melhor forma que sabem e podem "esses forasteiros malucos com carros pintados e barulhentos" que anualmente fazem questão de deixar marcas nas estradas.
Com os reconhecimentos feitos e as notas bem "afinadinhas" lá chegou a hora da verdade, que é como quem diz, vamos lá dar gás e ver o que vale este Peugeot 106 que o Carvalhido traz tão aprumadinho. 
A primeira classificativa, um troço novo com pouco mais de 5 quilómetros era essencialmente rápido com a parte final a apresentar uma sequência de curvas deliciosas feitas em apoio. Aqui, logo nos primeiros metros consegui perceber que eu estava no meio de uma dupla "terrível". Por um lado, o Peugeot 106 revelava-se, como dizemos na gíria, "uma pistola". Comportamento eficaz, bastante rápido e nervoso. Por outro lado, o meu "motorista" de serviço parecia não ter respeito às leis da física, mas ao mesmo tempo, levava essas mesmas leis nas palminhas das luvas, tentando não lhes dar um único beliscão (ou por outras palavras, não cometer nenhum exagero, mantendo sempre aquela margem de segurança que faz a diferença entre terminar com sucesso e terminar na sucata).
Curva após curva, num ritmo desenfreado, o primeiro troço estava feito! Só que.... Soava o alarme; o ponteiro da temperatura estava no vermelho, concordando com os vapores de agua de radiador que subitamente entravam no cockpit do "avião". Tínhamos perdido a agua do radiador, um tubo plástico deu parte fraca. Nada mais havia a fazer além de chamar os nossos parceiros de aventura, António e Gerson.
"Vinhamos a andar bem, diverti-me imenso, Zé! "Foi pena ter acabado tão cedo, soube a pouco mas os ralis são assim e não podemos ficar tristes"... Foram estas as palavras que seguraram a moral em alta quando o resultado final do rali ficou em baixa.
Carregado o carro para o reboque, voltamos resignados para Valpaços, ainda a tempo de ver a dupla passagem dos "resistentes" pela Super Especial que encerrava o rali e depois disso um saltinho ao secretariado só para ver como nos portamos naquele curto primeiro troço. Surpresa! Superou as expectativas, conseguimos obter o 4º melhor tempo da classificação geral, a somente 3 décimas do 3º lugar. Para mim, estreante na equipa foi muito satisfatório ver que íamos no bom caminho, tal como foi totalmente recompensador ouvir da boca do piloto palavras de agradecimento pelo meu trabalho. Só foi pena mesmo termos ficado de fora tão cedo, mas como se costuma dizer, os ralis são mesmo assim.
Agradecimentos? Em primeiro lugar, obviamente ao José Carvalhido o meu muito obrigado pela oportunidade e pela diversão que foi. Agradecimento também à estrutura da Carvalhido Racing Team (o António, o Gerson, o Domingos e todos os demais que a troco de uma paixão chamada automóveis dão muito de si diariamente e na maior parte das vezes quando o corpo e o bom senso já pedem descanso) pela forma profissional como encaram os ralis num espírito totalmente descontraído e divertido. Espero que todo o trabalho que vão fazendo seja recompensado no futuro com os resultados que vocês na equipa merecem!
Resta-me também agradecer ao Rui Antunes e ao Márcio Martins pela prontidão que tiveram em ajudar e agradecer à organização deste rali e às gentes da região porque, de facto é um prazer ser bem recebido e acolhido de forma tão simpática nas vossas terras. Bem hajam!
Da minha parte, em breve irei voltar aos ares de Trás-os-Montes, regressando à Encontro Team para a segunda prova do ano... e como vêem, apenas um pequeno troço de 5 quilómetros e pouco dá para escrever quase de forma interminável as muitas peripécias que só os ralis conseguem proporcionar! Até breve...

*por Miguel Castro - Navegador de Ralis

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