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segunda-feira, 7 de abril de 2014

RALI DE PORTUGAL: CRÓNICA DE UMA AVENTURA INESPERADA

*por Nuno Carvalhosa, co-piloto de ralis
Nem sei por onde começar, ainda nem me acredito que estive à partida do Rali de Portugal – Promoção, foi um sonho tornado realidade.

Bem, estava em pleno dia laboral quando um amigo me liga a perguntar se queria ir fazer o Rali de Portugal, desatei a rir e mandei pra um lado onde não posso descrever, mas ele repetiu o convite e disse que estava a falar a sério. Nem queria acreditar mas ele passou a explicar, tinha um amigo que iria navegar o piloto José Pedro Miranda mas por razões pessoais não se poderia deslocar ao Algarve para fazer o rali. Depois de alguns telefonemas, decidiu-se que pelas mais diversas razões seria melhor não ir um navegador de tão longe. Uma tristeza abateu-se sobre mim, o sonho que de repente se tinha tornado realidade, passou a uma desilusão tamanha.
Já em casa e depois de adormecer o meu telefone toca, e com a “moca” de sono, pensei que era o despertador já a tocar para me levantar para mais um dia de trabalho mas, depois de olhar para o visor vi um número que não me era conhecido. Do outro lado, uma voz fala, “Sr. Carvalhosa, sou o José Pedro Miranda e estou a ligar para ver se me pode ajudar. Como sabe fiquei sem navegador e gostava de saber se você era homem de me ajudar e vir fazer o rali comigo mas que o problema seria que teria de estar junto ao estádio do Algarve pelas 9 da manha. Você acha que consegue?”. Depois de cerca de 2 segundos de muito pensar respondi, “deixe-me só fazer as malas que faço a viagem durante a noite e se tudo corresse bem de certeza que pela hora combinada eu la estaria.”.Depois de banhinho tomado e mala feita, la arranquei para o Algarve com a companhia do meu “filho”, que também não gosta nada de rali.
Feitas as 5 horas de viagem, lá cheguei ao estádio do algarve pelas 5:30 da manha. Puxamos os bancos para trás e la tentamos dormir um sono mas o ansiedade era tanta que não houve sono que pegasse. Já pelas 9:00 da manha, o Sr. Miranda chegou ao parque de assistência, e lá passamos as apresentações, visto que nunca nos tínhamos apresentado formalmente. 
Durante a manha tratamos da alteração de navegador, trocamos umas palavras pra vermos o que iria ser feito durante o rali e quais seriam os objetivos do piloto. A resposta do Pedro foi muito frontal “oh Nuno, vim cá pra me divertir, por isso não te chateies. Quero é que tu também te divirtas e que gozes o momento”. E foi com esse moral que chegamos ao primeiro CH e demos inicio ao meu sonho. Com uma ligação de alguns kms, fui-me ambientando ao Subaru (primeiro carro 4x4 que fiz um rali) e fui-me apercebendo que não era parecido com nada do que já tinha andando. “Que máquina…”
Já no inicio da classificativa de Silves, o nervoso miudinho foi crescendo visto que, não tinha notas e ele iria ter de fazer tudo “à vista” e claro eu não sabia a qualidade de pilotagem dele. 5,4,3,2,1 e ai vamos nós, serra acima, serra abaixo, vira a direita, vira a esquerda e eu ali, apenas a gozar o momento e a apreciar o público que se estendia pela classificativa. O Subaru parecia que andava em pleno asfalto, tal era a qualidade das suspensões e de tudo o resto. 
Estava completamente abismado com tudo que se passava…. Acabada a classificativa de Silves, tive que dar os parabéns ao Pedro porque, apesar de não termos um bom tempo, gostei bastante da condução dele e ainda pra mais sem notas…Durante a ligação para Ourique la fomos falando e rindo daquilo que tínhamos feito e mesmo gozando connosco pela falta de notas.
A partida para Ourique, e em tom de brincadeira diz o Pedro “ vá agora venham dai essas notas que agora vamos atacar”, e claro, soltei uma gargalhada. 5, 4, 3, 2, 1 e vamos nós outra vez, serra acima, serra abaixo, um gancho aqui, um gancho ali e eu a cumprir a minha função em pleno, a curtir aquele momento porque não sei se algum dia o irei repetir. Quando menos esperava lá chegamos nós ao final de PEC, com um tempo normal para quem ia “ à vistinha”.
Mais uma ligação, esta a caminho de Almodôvar e nessa ligação, puxei de um caderno que estava no tablier, e nele estavam as notas dessa PEC, com cerca de 3 ou 4 anos e tiradas por outro navegador. Lá fui tirando duvidas acerca do que estava escrito e tentando perceber as abreviaturas la inscritas. Pensei para mim, “vamos la fazer uma classificativa pelo menos a fazer o trabalho que o navegador faz”. Quando o relógio chega a 0, começo eu a ditar notas, foram vinte kms, mais coisa menos coisa, a ler algo escrito com abreviaturas e letra diferente da minha, foi uma batalha constante. 
Quando menos espero as notas acabaram, e com isso a classificativa também e pensei para mim “não correu mal, não me enganei, tive uns atrasos a tentar perceber a letra mas nada demais”. O Pedro, depois de sairmos do CH, estendeu a mão para me cumprimentar e disse“parabéns, não estava a espera que te aguentasses com essas notas. Foste muito certinho, e peço-te desculpa pelo tempo que fizemos. As notas estavam todas la e certinhas mas eu ia quase sempre com o pe atras visto e que não sabia se elas ainda coincidiam”. Estas palavras ditas por alguém que faz corridas à mais de 25 anos, para mim foi como se tivéssemos ganho o rali. Estava realmente de rastos tal foi o esforço físico exigido.
Depois de uma ligação de cerca de 60kms chegamos ao estádio com o sentido de dever cumprido, e um sonho realizado. Metemos o carro em parque fechado e a vontade de chorar apareceu, tal era a emoção de ter feito um rali que nunca na vida esperaria fazer. 
Sei que não fui por mérito próprio mas o que interessa é que fui. Tenho de agradecer a muita gente e espero que me lembre de todos, ao meu amigo que se lembrou de mim e me ligou, ao Pedro por me ter deixado ir ao lado dele num rali desta envergadura, a todos que durante o dia me foram dando palavras de coragem, aos Sheila´s por me darem dormida, a minha família pela compreensão de, de repente ir “as escuras” pro Algarve, aos amigos que se ofereceram para me darem as notas que tinham, João Aguiar e Júlio Sousa, resumindo, sem todos aqueles que me apoiaram nesta “aventura de uma vida” nada disto teria sido possível. OBRIGADO.

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