Aquela que foi a minha 3ª participação no tão popular Rali de Famalicão ficará guardada nas minhas memórias pela contradição que foi o resultado final: se por um lado, a desistência perto do final foi (e de certa forma continua a ser) difícil de digerir, por outro lado, aquilo que enquanto equipa conseguimos fazer ao longo das 5 classificativas que conseguimos disputar (em 7 possíveis), não pode ser de todo desvalorizada, deixando-me um "saborzinho" de realização e satisfação pessoal bastante agradável.
Depois da estreia do meu bravo piloto em Fafe com esta nova máquina, o Mitsubishi Lancer Evo III, rali no qual apenas consegui roer 9 das 10 unhas disponíveis nas mãos por ser obrigado a ficar de fora, o Rali de Famalicão constituía para mim um triplo desafio e tripla expectativa.
Por um lado, estava bastante "curioso" para perceber se aquelas chatices mecânicas que afectaram o rendimento do Cláudio e do Luis em Fafe estavam sanadas ou se iríamos viver novamente o pequeno calvário que é não ter travagem, não ter embraiagem, não ter refrigeração...e não ter coração que aguente tanto stress.
Por outro lado, um formato bastante diferente do que habitualmente vemos em ralis, tornava esta edição da prova organizada pelo Team Baia num exigente desafio com 7 troços diferentes corridos em linha a elevar a importância das notas e do navegador a um outro nível.
Finalmente, e após alguns quilómetros feitos em testes a bordo deste CARRO DE RALIS (sim, este já é um carro de corrida a sério), estrear-me em competição nesta máquina deixava-me antever que iria viver um fim de semana desportivo a um ritmo que, definitivamente não estava acostumado e por isso, alguma apreensão para perceber se seria capaz de acompanhar!
Desde logo nos reconhecimentos, percebemos o grau de exigência e de dificuldade que o "mestre" Sérgio Aguiar e toda a sua equipa desenharam para esta fabulosa prova. Apesar de algumas dificuldades no apontar de notas, principalmente fruto das "obras eleitorais" que adulteraram por completo algumas partes das classificativas, 2 passagens de reconhecimentos chegaram para enfrentarmos o grande dia (ou neste caso, 2 dias).
Os troços de sábado, mais rápidos e completamente preenchidos de um fervoroso público apreciador e conhecedor, foram por nós concluídos sem qualquer problema. A mecanica do Evo estava portar-se lindamente, o meu bravo piloto levou para Famalicão unhas e dentes comandando com mestria uma máquina que parece ter sido feita para voar, e eu lá ia acompanhando este frenesim sem perder (muito) a compostura, nem mesmo quando o Evo decide momentaneamente brincar com a nossa saúde cardiovascular, ao descolar de traseira numa direita feita em 5ª a fundo!! Coração em perfeito estado!!
Chegados ao final do dia, a dupla passagem pela Super Especial de Fradelos é já um ex-libris desta prova: que multidão para ver passar os carros! Que ambiente de verdadeiro rali... isto merece recompensa para aqueles milhares que estão ali, ao relento, a pé, horas a fio, por nossa causa. E essa recompensa, tentamos nós consegui-la da melhor forma com umas boas derrapagens, sobretudo na zona da rotunda. Tinha de ser, nós gostamos e o público (acreditamos nós) agradece!
Terminado com sucesso este primeiro dia de rali, registamos o 13º lugar da geral, registamos o 2º posto dos 4x4 no Troféu CIN, e registamos uma lindíssima luta de cerca de 6 segundos com os nossos amigos Jacinto e Nuno, que prometia para a segunda etapa novos episódios.
Para o segundo dia de rali, mais 3 classificativas até chegar ao objectivo que é a meta. O primeiro troço (mini troço de 3 quilómetros apenas), é feito à velocidade da luz... ou pelo menos, visto de dentro do carro assim parece! Dali seguimos para o penúltimo troço, mas não sem antes passar na curiosa "zona energética" assinalada no road-book, e que mais não era que um rico pequeno almoço para todos os concorrentes à nossa espera junto ao troço de ligação. Um pequeno "miminho" mas que soube mesmo muito bem, e aqui, como aparte desta crónica, os meus parabéns à organização por este brinde, tal como já havíamos sido prendados no dia anterior antes da Super Especial.
Chegados à partida da penúltima classificativa, e com a motivação em alta pelo desempenho e andamento que vínhamos a conseguir, e também porque o Evo estava a ser "um carrinho fantástico", a palavra de ordem era atacar! Em 5, 4, 3, 2, 1... POW!! (Do sonho ao pesadelo basta uma fracção de segundo, sabiam..?) No momento da partida, algo cedeu na transmissão do Evo e o nosso "clássico" mostrava que não era capaz de ir mais além... estava consumada a desistência e estava apoderado de nós aquele sentimento de frustração por não conseguirmos terminar, por não conseguirmos desfrutar do restante rali, por não conseguirmos saborear um pouco mais o imenso gozo que dá viajar nesta maquina... mas os ralis têm destas coisas e só nos restava carregar o carro no pronto socorro e regressar à base, onde nos aguardava já toda a espetacular equipa da Jacinto Torres Competição, momento no qual damos conta que o azar dos nossos companheiros foi bem maior que o nosso, felizmente apenas com lesões materiais. Um abraço para eles e que regressem já em Mesão Frio!
Já com mais calma e com a cabeça fria, percebemos que a desilusão da desistência e do desafio inacabado, não é assim tão grande, quando comparada com a enorme satisfação pelo que conseguimos, pelo que andamos, pela evolução que notoriamente tivemos neste rali, pelo gozo que dá este fantástico Evo (e por mim falo, dá mesmo um gozo gigante viajar neste carro que provoca ao meu bravo piloto dores de braços, transpiração contínua, respiração ofegante e bastante desidratação, mas que ao mesmo tempo me deixa perceber que apesar de tudo quem manda é mesmo o piloto).
Em resumo, um rali que terminou mais cedo para nós, mas que valeu cada metro percorrido e com vontade de que o próximo rali seja já a seguir...
O meu muito obrigado aos nossos patrocinadores, ao staff da assistência, ao publico porque nunca deixam em momento algum de nos apoiar, e um agradecimento especial ao Cláudio Ornelas pelo privilégio que é poder viver estes momentos. Até Mesão Frio...
*por Miguel Castro - navegador da Encontro Team
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