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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

CRÓNICA DO RALI CASINOS DO ALGARVE: AS VOLTAS DO DESTINO


Longe vai o ano em que vi pela primeira vez numa corrida o Renato Pita. Não o conhecia pessoalmente e nem tão pouco desconfiava que se tratava de um conterrâneo, quase vizinho. Mas algo ficou desde logo na retina, naquele Rali de Esposende de 2005: a forma cuidada como o Renato "se mostrava" nos troços, com uma decoração bem trabalhada e um Peugeot sem aquele aspeto usado e gasto que muitas vezes se via (e a espaços ainda se vê) nas provas regionais. Voltaria mais tarde e em diversas ocasiões a ver o Renato em prova, com outros carros mas sempre com aquela imagem "limpa", cuidada, sóbria, de alguém que planeia muito bem os projetos.

Passaram desde então uma série de anos, os suficientes para me sentir velho e sem vontade de contar quantos foram mas isso também não importa nada. O importante é que este ano, a convite do Renato, fui acompanhar a sua participação na Taça de Portugal de Ralis, no Algarve.

Nunca tinha estado por dentro de um rali no papel de assistência e este desafio lançado pelo Renato era uma oportunidade de vivenciar algo diferente. Depois de estudar a agenda e de conciliar os meus afazeres com este rali, dei o ok e esperei pela data (com alguma ansiedade, confesso).

Dia 1, a viagem


O dia começava como começam tantos outros dias normais: sair de casa pela manhã para ir trabalhar. E este não foi diferente.... ou melhor, foi bastante diferente: a concentração era outra, a ânsia do passar de horas também. E o voo para Sul era só ao final da tarde, numa espera interminável de minutos que viraram horas e de horas que se prolongaram e muito na linha do tempo.

Chegado o momento lá vou a caminho do aeroporto com aquele entusiasmo próprio de um menino prestes a receber um presente.

O avião rapidamente enche, tipo sardinha em lata mas nem isso me esmorece do objectivo. Pelo meio uma escala em Lisboa mesmo a tempo de jantar e depois outra longa espera até novo embarque rumo a Faro. A hora vai já adiantada com um atraso no voo a ajudar à festa, mas lá consegui finalmente chegar ao Sul, já depois da meia noite.

Dia 2, preparativos






Depois de na noite anterior o staff do Renato Pita me ter pacientemente esperado em Faro e depois de umas horas de descanso, o segundo dia prometia ser preenchido: reconhecimentos, verificações, uma ação promocional junto de um dos parceiros do projeto do Renato e muitas horas em cima das pernas. Mas deu para me entrosar um pouco com a equipa e perceber como funciona esta estrutura.

Sem contratempos ou sobressaltos, o dia ainda permitiu um pequeno passeio pela zona ribeirinha de Portimão, a aproveitar o lindo sol com que o Algarve nos brindou. Tudo pronto para a ação!

Dia 3, que comece a competição


Sem participar por opção no matutino "Qualifying", o Renato e o Rui Moreira viam-se obrigados por força dos regulamentos a ser das ultimas equipas na estrada. Um problema, pensaria a grande maioria das pessoas... mas a tranquilidade quase desconcertante do piloto perante tantas situações surpreendeu-me e no final do dia acabou mesmo por ser muito positivo o facto de ser "dos últimos". Mas já lá vamos...

As duas classificativas inaugurais foram superadas com distinção pela nossa dupla que prontamente se colocou na dianteira da classificação reservada aos 2 rodas motrizes. Estava a correr bem e eu já "tinha vestido a camisola" da equipa pois estes resultados fizeram-me vibrar.

Chegados ao final do dia e à Super Especial de Lagos, entra o tal facto muito positivo de ser quase ultimo na estrada. A partida para esta super especial era dada por ordem inversa e por isso o Renato e o Rui foram dos primeiros a disputar o curto traçado e assim darem por encerrado o dia ainda bem cedo, sem prolongar o serão. Isto significou que pudemos desfrutar mais cedo do conforto do hotel e descansar para a longa segunda etapa.

Dia 4, a vitória

O segundo dia de rali começou bem cedo nos espetaculares troços de Monchique. Apesar de um amanhecer carregado de neblina e de muita humidade no chão, a nossa dupla não se intimidou e continuou a explorar as capacidades do Peugeot 208 Rally4 (que grande maquina este carrito!!), dilatando paulatinamente a sua vantagem nas 2 rodas motrizes.


Aproveitamos este dia para nos deslocarmos ao troço do Chilrão onde pudemos "ver um pouco de rali". Aqui abro um parenteses para pedir publicamente desculpas à Filipa por ter sido um "copiloto" exigente que a levou a ver mais rali neste dia do que em quatro anos da sua ligação ao projeto... deixei-me levar pelo entusiasmo de acompanhar a nossa dupla "in loco", mas não me arrependo...

Voltando à história, após a conclusão de "Chilrão 2" regressamos a Lagoa e à assistência enquanto os bravos arrancavam para o derradeiro troço de montanha - Monchique 2 - antes da Super Especial de encerramento em Portimão.

Claro que toda a viagem foi feita agarrado à pagina de tempos online mas... faltava o tempo dos nossos rapazes. Um "refresh" à pagina e nada. Continuava sem cair o tempo do Renato e do Rui, precisamente na ordem em que devia cair o tempo deles. E mais nenhum tempo estava a entrar. Novo "refresh", e tudo parado. Comecei a fervilhar, a pensar que algo de errado se passava. O que teria acontecido? Porque é que eles não aparecem?" E a nervoseira a aumentar. Passaram 5, 10 minutos e nenhuma outra equipa aparecia na pagina de tempos (propício a pensar que o rali tinha parado quando os nossos rapazes estavam em prova). E de repente toca o telefone! Era o Renato e todo eu estremeci. Será que é para dizer algo menos bom? Atendi... e aqui novamente fica explicita a sensibilidade e a tranquilidade que o homem tem:

"Miguel, a página dos tempos está bloqueada mas já terminamos, está tudo bem, baixamos 2 segundos. Era só para vos deixar tranquilos"... (UFAAAA!! Respira de alívio, Mike!).

Restava então a Super Especial final e depois um desfile de todos os concorrentes até à apoteótica cerimônia do pódio realizada em pleno coração de Portimão. Estava concluído o rali, estava consumada a vitória! E a satisfação de ter vivido ao vivo, em direto e a cores este evento que muito me agradou.

Tempo para cumprimentar o Rui e o Renato. Parabéns por esta espetacular prova!

Dia 5, o regresso

Que nem sei bem se foi ao quinto dia ou se ainda foi no quarto dia, tal foi o esforço para madrugar a horas "pornograficamente" noturnas. Mas tinha de ser pois o avião de regresso não ia esperar.


A viagem do hotel até ao aeroporto, fi-la quase totalmente calado e não foi só por causa do sono. Sabem aquela nostalgia que dá quando termina algo de que gostamos..? Pois, era isso que sentia. O encarar de frente que a seguir voltava a rotina do dia a dia. E recordei todos os momentos desta viagem, todas as risadas, todos os cenários do sempre fascinante Algarve, todas as pessoas com quem me fui cruzando e contactando... e senti-me agradecido por todos aqueles momentos. Gostei imenso da experiência, gostei imenso de regressar tanto tempo depois ao Algarve em contexto de ralis e gostei imenso de ser parte integrante da equipa do Renato, aquela que há muitos anos atrás me chamou à atenção pela diferenciação que apresentava em relação às demais. Estas voltas do destino são tão curiosas...

Obrigado Renato Pita, Filipa Pando, Rui Moreira! Vemo-nos em breve no Rali de Viana do Castelo...

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