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terça-feira, 1 de outubro de 2024

UM PEQUENO GRANDE RALI


Dois anos passados, quis o destino que eu voltasse a estar à partida do Vizela Motor Festival, e quis o destino que fosse novamente com um “Costa”, desta vez com o “l’enfant terrible” Telmo, e de regresso também “à noiva” que nos fez tão felizes em Vieira do Minho, no início do ano.

Seríamos uma das 7 equipas a defender as cores da MNE Sport e esse era também um colorido motivador para dar um bom resultado a esta enorme família.

Este é um evento diferente, peculiar, pois dentro do festival motorizado há várias vertentes desde os clássicos ao TT, e claro está um rali… um mini rali, vá… e é neste que me vou concentrar nesta prosa.

Duas pequenas classificativas (Santa Eulália com 3 passagens e a já minha conhecida Garrafinha – que não era a da mini 20cl - com duas passagens) às quais se juntava uma City Stage percorrida por duas vezes a encerrar a competição. Este era o menu proposto pelo Motor Clube de Guimarães para um dia de convívio e competição.

Os trabalhos iniciaram-se com os reconhecimentos e desde logo foi delineada uma estratégia que passava por focar nos detalhes a fim de ter uma maior confiança e à vontade durante a prova para ir de encontro ao que o Telmo desejava já dias antes: tentar um bom resultado, talvez até um brilharete. Ok, vamos trabalhar para isso, foi a minha resposta.


Apesar de pequenos, estes troços propostos pela organização revelam-se um bom desafio quer pela rapidez, quer pela dificuldade que nos apresentam e dessa forma, os reconhecimentos tiveram de ser aprimorados para saírem umas notas perfeitinhas, ao estilo pauta de musica do Pavarotti, nas quais eu iria emprestar a voz e tentar não desafinar.

Partimos focados e logo na primeira classificativa senti na pele aquilo que o Telmo queria: voar baixinho!! Não foi uma classificativa perfeita mas não esteve assim tão longe de o ser e o cronómetro comprova-o: sexto melhor registo da classificação geral, terceiros entre os “tração dianteira”. Excelente começo, assim gosto!


Seguimos para a Garrafinha mas aqui as coisas complicaram (também tem de haver um pouco de drama senão a novela não tem graça!). O endiabrado Citroen Saxo nesta classificativa lembrou-se de “dar uma de cordeirinho” e parecia não estar com a força toda, sobretudo quando mais precisamos, nas rotações mais elevadas. Claro que numa prova tão pequena qualquer segundo de perda é uma eternidade e não conseguimos melhor que o 11º tempo absoluto.

Na assistência o pessoal competente atirou-se de mangas arregaçadas ao carro (eu afastei-me para não estorvar) e em pouco tempo a solução para o problema estava encontrada – ou pelo menos na teoria, iria resolver - mas para o comprovar precisávamos de voltar aos palcos da adrenalina.


Santa Eulália 2, voltamos a voar baixando 6,5 segundo à passagem anterior sendo agora os segundos mais rápidos entre os “tração dianteira”. O Saxo parecia estar a responder melhor e a confiança regressava. O ritmo estava frenético e prometia melhorar mais.

Seguimos novamente para Garrafinha, troço que nos correu bastante melhor que na passagem anterior e o quinto melhor tempo obtido confirma-o!


Como isto era um rali pequenito, sem darmos conta-metade da prova já estava superada e os objetivos estavam a ser conseguidos com o 4º posto absoluto e 2º na FWD (tração dianteira, para quem não está à vontade com abreviaturas). Mas faltava ainda Santa Eulália 3 e depois as duas passagens pela City Stage. Não podíamos baixar a guarda e muito menos cantar vitória.

Eram apenas duas as décimas de segundo que o nosso perseguidor tinha de atraso para nós e de repente estávamos ali metidos numa luta muito gira daquelas que dão sabor à competição.

Vamos então “com tudo” para a terceira passagem pelo “troço grande” (soa a ironia chamar-lhe grande). Concentração ao máximo para não haver falhas, contagem decrescente e…. eis que o berro saudável do motor da noiva ecoa pelas estradas de Santa Eulália como um pequeno foguete, com o mestre do volante apostado em dar o máximo, e o máximo significa para o Telmo, um verdadeiro recital de condução – a minha vontade era calar-me, fechar o caderno e desfrutar, mas não o fiz. Eu era uma espécie de “man on a mission”, estava ali para ajudar e fiz o melhor que pude para que aqueles 4 quilómetros e pouco ficassem registados. E ficaram!! Graças a uma mega “librada” como dizem os galegos, com a traseira do carro a querer espreitar a frente, mas à qual o bravo piloto respondeu com um contundente “aqui mando eu”, colocando a doida da noiva de novo nos carris! E que troço este! Completamente a fundo, feito mesmo no limite.

Só que não foi suficiente pois a nossa equipa adversária respondeu à sua maneira “limpando-nos” as duas décimas que tínhamos de avanço – aquela dupla anda muito!

Ou seja, a luta que estava a ser gira passou a ser muito gira com um empate à décima de segundo no pódio das 2 rodas motrizes, quando ficavam a faltar as duas passagens pela City Stage. Que comece o rufar dos tambores porque isto é bem melhor que a final da Champions…


City Stage 1, entrada à leão mas com juízo. Os pneus frios eram um handicap (igual para todos, é certo), mas que poderiam comprometer o bom resultado que tínhamos ali ao nosso alcance. Uma derrapagem controlada (e bem controlada) na rotunda, mais uma sequência de curvas apertadas ultrapassada com sucesso, um “360º” calculista no pião mas também sem problemas e em poucos segundos já estávamos na meta. Foi muito bom mas não foi excelente e o relógio pendia a favor da outra equipa por 1 segundo e meio. Vamos tentar recuperar na segunda passagem, embora conscientes que num trajeto tão curto e sinuoso, não é nada fácil, sobretudo dada a qualidade da nossa dupla opositora.

Partimos ainda mais focados e concentrados para a segunda passagem deste curto traçado citadino em que a motivação até parecia que crescia em cada curva, dada a multidão que nos brindou com uma presença em massa ao longo deste quilómetro de especial.

Aceleração ao máximo, mais uma acrobacia na rotunda – lá está o efeito dos pneus frios – mas perfeitamente controlada pelo Às do Volante, travagens no limite, trajetórias a aproveitar ao máximo cada centímetro de alcatrão (e às vezes até para lá disso, como o foi no gancho a meio da especial, em que andamos em 2 rodas para poupar pneus) e “em menos de nada” já tínhamos concluído a prova. Espetacular a todos os níveis!


Voamos novamente, 2 segundos e meio tirados à nossa anterior passagem e o sentimento de dever cumprido estava lá. Restava agora aguardar pela prova do “Arcas” mas logo que arrancou, percebemos que aquela dupla é mesmo de outro campeonato. Um regalo ver aquele carro a passar e apesar de termos sido muito rápidos, dos 1,5 segundos que precisávamos apenas conseguimos recuperar um, portanto o resultado final ficou-se pelo terceiro lugar a somente 5 décimas do segundo posto.

Este foi um resultado que em nada beliscou a sensação fantástica de termos andado ao nível dos mais rápidos e saímos de Vizela plenamente satisfeitos pela nossa prova, objetivos atingidos na perfeição e o tal brilharete que o Telmo já merecia, aconteceu.

Faço-lhe uma vénia e conforme já lhe disse a ele, este pequeno grande rali vai-me ficar na memória por toda a adrenalina e diversão que vivi. Driver, foste para lá de espetacular… vai guiar ao c…!! 


Quero dar os parabéns ao Motor Clube de Guimarães por nos proporcionar uma prova tão agradável e ao Município de Vizela por nos receberem com este evento. Parabéns aos vencedores, em particular à dupla Filipe Teixeira / António Campos, que esteve como é hábito, em grande nível.

Os parabéns igualmente aos nossos bravos colegas de equipa que superaram as inúmeras dificuldades e atingiram o final da prova. Infelizmente nem todas as 7 equipas MNE conseguiram terminar mas às duplas azaradas deixo uma palavra de motivação porque se não correu tão bem agora, na próxima será melhor – o importante é não baixar os braços (nem rasgar o fato da navegadora… certo Eva..?)


Uma vez mais, a toda a MNE Sport o meu muito obrigado por me acolherem e pelo trabalho espetacular que foram fazendo ao longo da prova. Não vou enumerar nomes porque seriam muitos e depois dizem que escrevo textos longos.

E para terminar, porque o texto já vai maior que o rali em si, agradecer ao publico em geral e a todos quantos nos apoiaram ao longo da prova.

Que venha o próximo desafio! Bons ralis…


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