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sábado, 21 de setembro de 2024

KIA-TREVIMENTO!

Vou-vos contar uma história. A história de uma visita a terras de Chaves e Verin, que o meu amigo Telmo Costa me convidou a fazer. Esta é a história do meu Rali da Água – Transibérico – Eurocidade Chaves / Verin.

Como alguns de vós saberão, este ano tive a oportunidade de pela primeira vez navegar o Telmo e a experiência foi tão bem sucedida que o homem me voltou a requisitar para a prestação de serviços de navegação em ritmo ligeirinho. “Tens planos para o fim de semana? É que se alinhasses era gajo de ir fazer o Rali da Água” … e alinhei!


O primeiro contacto com a realidade desta prova foi nos reconhecimentos e desde logo duas notas de destaque: primeira - troços muito rápidos e espetaculares; segunda - rali bastante desafiante pelo tipo de estradas, pela extensão total do rali e pela variação de condições. Como eu disse algumas vezes a diversas pessoas, este rali é uma espécie de prato completo, pois tem de tudo.

Os reconhecimentos decorreram completamente dentro do plano de trabalho, com o processo do “tirar notas” a ser mais uma aprendizagem, especialmente para o meu bravo piloto que mostrou uma notável capacidade de adaptação e mesmo nos locais onde pareciam existir mais dúvidas, acabou por ser uma tarefa simplificada que viria posteriormente a resultar quase em pleno.


Na estrutura da MNE Sport, seríamos uma das 3 duplas de Kia Picanto, juntamente com o Rafael Silva e o José Azevedo, bem como o Francisco Custódio e o Paulo Marques, estes inseridos no Fpak Junior Team. 

Ainda o rali não tinha começado e já o Telmo mostrava aquilo que eu já achava: este jovem é extremamente focado em todos os detalhes, especialmente nos cuidados com a preparação do carro… ou dos carros, pois enquanto elemento da MNE Sport, nunca descura os restantes carros em competição, mesmo estando ele mesmo a competir. Foi um verdadeiro sprint para que na hora da partida da prova estivesse tudo a postos mas juntamente com o Simão, com o José Carlos, com o André, com o João Pedro e com todos os demais que deram uma mão, tudo se organizou para o grande momento.

O primeiro dia de rali era composto por 3 troços bastante distintos: o primeiro (“Transibérico”) muito rápido, maioritariamente em bom piso, com apenas cerca de 6,5 kms; seguiam-se os cerca de 11 kms do “Termas de Chaves”, com bom piso e muito largo e rápido no início, para passar depois a uma estrada bastante estreita e com muita sujidade, antes da secção final, em estrada mais larga com descidas acentuadas e travagens muito fortes sempre em cima de imensa sujidade; e para terminar o dia, a classificativa do “Alto Tâmega” com 10 kms disputados em estradas maioritariamente largas intercaladas com alguns pontos de “calceta” e muita sujidade, imensa, em quase todas as curvas… isto tudo feito já em plena escuridão da noite.

Como esta foi a estreia absoluta do Telmo no Kia Picanto, a estratégia passava por tentar ir percebendo o carro na fase inicial e depois tentar progressivamente aumentar o ritmo consoante a confiança que sentíssemos. E assim entramos no rali.


Sem qualquer exagero e com uma boa margem de segurança completamos o primeiro troço e seguíamos seguros para o seguinte, no qual as dificuldades de sermos o penúltimo carro na estrada se fizeram sentir com a muita sujidade, mas apesar de um ou outro pequeno calafrio (também fazem falta para ativar a circulação sanguínea), era mais um troço superado com sucesso antes daquele que considero ter sido o mais difícil e duro do dia… ou melhor, da noite!

Montamos uma calandra tipo kit Car, concentramo-nos tipo Latvala e entramos com uma vontade tipo Ogier… mas a realidade fez-nos ver que somos uns amadores, tipo nós mesmos! 

O troço apresentava imensa sujidade e nas zonas que atravessavam floresta, estava mesmo escuro como breu. A calandra coitadita… fez o que pôde e que não foi muito e por vezes não era fácil saber onde estávamos, mas como continuava a haver estrada por baixo do Kia, só tínhamos que aguentar. Mesmo na última curva mais um enorme calafrio daqueles em que por momentos a estrada saí debaixo do carro, mas o Telmo resolveu como um mestre e saímos dali “de fininho”, sem fazer barulho para ninguém ver… até pareceu que foi de propósito! 


Estava completado o primeiro dia. As notas funcionaram salvo um ou outro detalhe mais otimista mas este primeiro dia deixou-nos com muitas ilações a tirar. A tabela de tempos dava-nos um chapadão de realidade: estávamos a rodar bastante longe dos Kia mais rápidos em prova – em média meio minuto dos mais rápidos – e teríamos de nos aprumar para o dia seguinte no sentido de tentar melhorar (afinal de contas foi para isso que nos deslocamos a Chaves).

Os nossos companheiros de aventura Rafael / José e Francisco Paulo, também haviam superado com sucesso estre primeiro dia de rali, deixando toda a MNE Sport com um sorriso no rosto. 

O segundo e mais longo dia de rali começou bem cedo. 6 provas especiais de classificação (entre as quais os “temíveis” 15780 metros de Verin feitos por duas vezes, um troço brutal de início ao fim, para mim o melhor de todo rali) e uma City Stage para encerramento da festa, era assim o menu do sábado, um dia que prometia muito exercício para o nosso pequeno e atrevido Kia Picanto.


Iniciamos a etapa com a mesma filosofia do dia anterior: evoluir passo a passo, mas ainda numa fase inicial da etapa sentimos umas ligeiras dificuldades na progressão do Kia especialmente nas subidas (e o primeiro troço do dia tinha bastantes subidas), que nos limitavam um pouco o desempenho. Algo de estranho se passava ali mas como fomos para lá para superar desafios, seguimos diretos para o troço seguinte no sentido de ganhar alguns minutos na ligação de modo a poder tentar verificar se daria para resolver esse pequeno problema. Se bem o pensamos, melhor o fizemos, funcionando plenamente em equipa: eu passei as ferramentas ao Telmo e ele trabalhou!

Arrancamos para “Verin 1” e o carrito já parecia estar com melhor respiração. A bom ritmo cumprimos o troço e neste posso afirmar que já viemos “a curtir”, a desfrutar. Bela classificativa, já nos deu maior gozo e permitiu explorar um pouco melhor o Kia. Agora eu sentia que o meu bravo piloto já começava a entender “as manhas” ao carro e a jogar com isso para tirar o melhor proveito possível.


A secção matinal encerrava com a primeira de duas passagens por “Chaves” mas… coisas dos ralis: troço neutralizado, recebemos ordens para seguir em ligação, sem capacetes. É sempre chato porque a gente foi lá para correr, mas sabemos que faz parte e há sempre algo a aproveitar. “Desculpa Telmo, arruma lá o telefone que vamos trabalhar”. Fazer o troço em ligação foi uma excelente oportunidade para confirmar notas pois durante os reconhecimentos apenas fizemos duas passagens por troço. Acabou por ser proveitoso com uma ou outra correção que mais tarde se revelou eficaz.

A secção da tarde era uma repetição dos troços da manhã e estávamos curiosos para ver como se ia comportar o carro naquelas subidas intermináveis do “Eurocidade”, a primeira pec da tarde.


Com maior conhecimento do carro e maior confiança, entramos com um pouco mais de garra, a atacar e agora o carro parecia responder melhor. Tiramos proveito disso e baixamos quase 9 segundos ao tempo da manhã, apesar de toda a sujidade e pedra solta que apanhamos, mas o melhor indicador era mesmo a redução do “fosso” para os mais rápidos dos Kia Picanto. Estávamos a evoluir notoriamente, vamos continuar agora no “carrossel” de Verin. Entramos com tudo! A fundo onde dava para ir a fundo, muito concentrados, bastante atiçados e a tirar um gozo tremendo do carro, baixando novamente o nosso registo em relação à passagem da manhã. Agora sim, estávamos em prova! E agora sim, o Telmo tinha o carro na mão! Ficava a faltar apenas a Power Stage, “Chaves 2”, a tal que de manhã fizemos em ligação. Outro troço fabuloso, com zonas extremamente rápidas e desafiantes. Mas já que chegamos até ali não nos vamos encolher agora, é hora de soltar as garras.

Voamos baixinho, o Kia tirou as rodas do chão e o Telmo tratou de as voltar a pousar com mestria (guias muito, rapaz!!), derrapamos, levantamos poeira, cortamos como fazem os grandes, usamos a estrada toda e concluímos o troço com um enorme sorriso de satisfação. Que belíssima classificativa acabamos de fazer, brutal! Tão brutal que passo a falar dos números: terceiro mais rápido de todos os Kia, a apenas 1,2 segundos do mais rápido. Passamos de meio minuto de diferença para 1 segundo e uns “cagagésimos” - Que atrevimento!!. Se isto não é evolução, então não sei o que é! Espetacular, piloto bravo! 


Vamos agora cumprir calendário com a City Stage, nada apropriada às caracteristicas do Kia, mas tem de ser. Sem inventar para não comprometer o bom estado de saúde do carro, levamo-lo direitinho até ao fim consumando os objetivos primordiais que tínhamos: terminar e terminar bem!


Em resumo, foi um rali excelente do ponto de vista do desafio, com troços muito bem desenhados, para todos os gostos, em excelente ambiente de equipa, ao qual se juntaram também o Rafael e o José Azevedo, bem como a cereja no topo do bolo que foi o triunfo do Francisco e do Paulo Marques no Fpak Junior Team, um excelente prémio tanto para a dupla que muito lutou por esse resultado, como para toda a MNE Sport que fizeram um trabalho de bastidores impecável! Parabéns Francisco Custódio / Paulo Marques! Parabéns também Rafael Silva / José Azevedo!

Agora chego àquela parte em que pareço as estrelas de Hollywood na cerimónia dos Oscares: Quero agradecer em primeiro lugar ao Telmo Costa pelo convite e por acreditar que o posso ajudar a evoluir. Telmo, és um pilotaço, guias como o raio! Mas admiro-te pela tua ponderação, o foco, todo o esforço e trabalho que desenvolves, sempre atento aos detalhes antes e durante os ralis. Não é só talento para o volante. Bravo!!


À MNE Sport, a todos os seus elementos sem exceção (e não os vou nomear sob o risco de me esquecer de algum porque ainda sou muito novo na casa), quero expressar o meu enorme agradecimento pelo trabalho feito e pela forma como me acolheram, sempre com ambiente descontraído mas com grande profissionalismo.

Os agradecimentos são obviamente extensíveis a todos os patrocinadores que permitiram estar neste rali, bem como ao público em geral, a todos quantos nos foram dando palavras de apoio e incentivo.

E para terminar, uma palavra de apreço ao CAMI pois montaram um rali espetacular, com troços magníficos dos quais tirei um imenso gozo! Correr em sítios destes vale bem a pena…

Agora, uma pequena pausa de alguns dias e, para não desabituar, em breve estarei novamente no lugar que me faz feliz: o banco do pendura!

Bons ralis, até breve…


2 comentários:

  1. Muito bem, Miguel. Viajei pelos troços e pela tua escrita. Parabéns a toda a equipa pelos resultados alcançados.

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  2. Parabéns. Mais uma crónica fantástica como já nos habituaste. Éeee 🙂

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