Foi o regresso ao Peugeot 206 da
Carvalhido Racing Team, e foi também o regresso da equipa aos ralis após longa
paragem e desde logo fiquei encantado com o que iriamos ter pela frente:
paisagens deslumbrantes junto ao Douro e troços super desafiantes, um deles com
mais de 15 quilómetros, mesmo como eu gosto.
O rali arrancou com uma divertida
super especial ao lusco fusco, assim já pela fresquinha, presenciada por uma
bonita moldura humana. Foi curto mas giro, e sem inventar nada o primeiro dia
era dado como concluído. Olhos postos na “fatia mais grossa do bolo”, que eram
os troços do segundo dia, no qual se previam temperaturas altíssimas dignas de
constarem nos livros. (E nem eu imaginava o quão quente ia ser o dia)…
Segundo dia a amanhecer mais cedo
que num dia de trabalho normal e estranhamente o despertar foi sem grande
custo, ao contrario de um dia normal de trabalho… curioso, não?
Estamos a falar de uma “direita
4”, uma curva cega, abordada a uma velocidade bastante razoável e por
infelicidade, naquele local não havia público. O concorrente que partiu à nossa
frente capotou, o carro fica tombado sobre a porta do piloto, completamente
atravessado na estrada e a obstruir totalmente o percurso, logo à saída da tal
direita, portanto sem visibilidade para quem vinha a seguir.
Num ápice percebemos que os
ocupantes permaneciam no interior do carro e nesse mesmo ápice aciono o botão
S.O.S. do nosso GPS. Ao mesmo tempo o Zé correu mais que a Rosa Mota para a
curva anterior, onde já estava a chegar a toda a mecha o Mitsubishi que vinha
atrás de nós.
Enquanto isso eu tento perceber o
estado dos pilotos acidentados e apesar de aparentemente estarem bem, a única
porta possível estava danificada e não abria. Estou eu a tentar de alguma
maneira ajudar os rapazes quando do nada o carro se incendeia. Eu não sei como
naquele momento consegui pensar direito, corri a pegar o nosso extintor e
apaguei a fogueira que tinha já ganho umas proporções demasiado grandes para estar
num carro com gente dentro. Nestes entretantos, os ocupantes lá conseguiram
partir um vidro e sair por uma das janelas e o rali já havia parado. Parece que
a situação já estava controlada. Foi um belo de um cagaço e felizmente sem
consequências físicas para ninguém… quer dizer… o meu bravo piloto quase perdia
os pulmões com a corrida sprint que deu. Mas se não fosse assim, ia dar asneira
de certeza, portanto valeu o esforço. Tal como valeu o esforço do senhor que
foi a única alma boa a alertar o perigo eminente daquele local.
A segunda passagem por este troço
acabou por ser um pouco mais comedida, mais conservadora e a paragem para
almoço ainda veio ajudar ao “cair da ficha” para algo que correu muito bem mas
que podia ter corrido muito mal.
Era o troço que nos gerava maior
expectativa mas entramos na classificativa algo “debilitados” pois a juntar à
desconcentração da manhã, o calor era imenso e um pequeno atraso na partida
ainda nos deixou mais uns minutos parados na saída, de capacete e fato
apertado, a escorrer água tipo chafariz da praça. Partida dada, aos poucos o
ritmo foi entrando nos eixos e nos primeiros quilómetros já estávamos a
desfrutar um bcadinho do Peugeozito. E desfrutamos, pelo menos até à casa da
Dona Alice, uma senhora com idade para ser nossa avó mas que estava como uma
jovem, alegremente a ver passar o rali à sua porta até ao momento em que lhe
fomos estragar a propriedade. As nossas desculpas Dona Alice, foi sem querer…
Agora, voltando ao episódio da
manhã, não posso deixar de realçar dois ou três aspetos do sucedido.
Cada concorrente vai equipado com
um aparelho de GPS para auxílio em caso de emergência. Os aparelhos contratados
para este rali funcionam como localizador e como meio de comunicação com o
centro operacional da prova, mas não estão equipados com nenhum tipo de
sinalização visual ao contrario de outros equipamentos usados em ralis integrantes
em campeonatos. Pergunto-me se pode ser aceitável que, com tanta modernice e
tecnologia que há hoje em dia, se permita que cada um de nós se lance à sorte
para os troços sem podermos ser alertados atempadamente de perigos como aquele
que vivenciamos…
Então não era de termos aparelhos
GPS com ecrã LED nos quais seria acionada a bandeira vermelha logo que algum
concorrente pressionasse o S.O.S.? Ali naquele caso saberíamos de imediato do
perigo e já chegávamos ao local a baixa velocidade.
Ou caso o concorrente capotado
acionasse o S.O.S., nós seriamos avisados pelo aparelho para o carro
imobilizado quando entrássemos num raio de 200 ou 300 metros por exemplo.
Porque ali estávamos sozinhos e felizmente o “homem da sachola” teve coragem
para se atirar para a estrada…
Outra situação passa pelos
Briefing’s obrigatórios que na minha modesta opinião são apenas úteis q.b.
quando deveriam ser 100% uteis. A explicação que por norma é dada sobre o
funcionamento do GPS é útil sim, mas e quanto a procedimentos de socorro? Como
atuar perante um acidente de terceiros? Como atuar se nós mesmos sofrermos um
acidente? Como atuar perante a amostragem de uma bandeira vermelha? Qual a
melhor forma de sinalizar um acidente? Isto são tudo questões que acho que têm
vindo a ser mais ou menos faladas nos briefings mas de forma algo superficial e
antes dos ralis quando o pessoal não está sequer concentrado pois há sempre “mil
e uma coisas” para pensar. Mas para mim seria muito mais útil enfatizar estas
questões com outra abordagem, e porque não até através de formações periódicas
por parte da entidade federativa em colaboração com Bombeiros, Proteção Civil,
INEM, etc…?
Creio que isto são pontos
pertinentes em que o nosso desporto precisa e pode melhorar. Muito já se fez (e
bem), mas ainda há situações que não se pode facilitar. O que vivemos naqueles
minutos em Resende traz-me à memória algo “parecido” ocorrido no Rali da
Madeira do ano passado em que um concorrente bate em cheio num outro carro que
se tinha despistado, simplesmente porque não teve qualquer aviso. Também não
teve consequências de maior, mas um dia acontece…
Vivemos numa era cheia de
paranoias com a segurança e depois, as mesmas pessoas que não me deixam segurar
sem luvas e sem balaclava num funil para abastecer o Peugeot, permitem que
sejam utilizados equipamentos de GPS que acabam por nos ser inúteis na questão
da prevenção e consequentemente nos colocam no perigo real que era o de embater
num carro capotado com gente dentro. Mudem este sistema por favor!
Não quero com isto criticar só
porque sim, nem apontar o dedo em específico a ninguém mas de uma forma global,
o que não esteve bem nesta prova deve ser identificado para que se possa
melhorar no futuro.
A todos quantos apoiam a
Carvalhido Racing Team o meu muito obrigado, agradecimento extensível ao meu
bravo piloto José Carvalhido. Estamos juntos my friend!
Vemo-nos em breve..?
Rali com muita sorte no meio do azar. Ótima crónica como sempre o fizeste
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