A minha segunda aventura a bordo do Mitsubishi Lancer Evo III fez-se numa região mundialmente conhecida, mundialmente apreciada e admirada. Património da Unesco, as paisagens do Douro Vinhateiro foram o palco para o Rali Município de Mesão Frio, terra de boas gentes e bons nectares.
Feitas as apresentações (até porque esta crónica não é para falar de vinho), passamos à acção. Depois da arrepiante experiência no rali anterior, no qual este nosso "clássico" Evo III se revelou um verdadeiro animal, foi necessário proceder à sua domesticação. Os custos inerentes ao consumo daquela gasolina cheirosinha que vem numas bonitas latas de 50 litros, e da qual o Evo era "alcoólico-dependente", levaram à mudança do mapa para o consumo da bem mais civilizada gasolina '98 comercial.
Sabíamos de antemão que toda aquela força bruta, que toda aquela potência e diversão que o Evo nos proporcionou (até partir) em Famalicão, não iam mais ser a nossa companhia nos rápidos troços de Mesão Frio, mas o choque que sofremos logo à partida para a primeira pec (a super especial nocturna) talvez tenha sido ainda maior do que aquele que esperávamos. A diferença era assustadora, quase abismal.. e preocupante! Desapareceu muito daquele poderio brutal que já havíamos experimentado, mas mesmo assim fizemo-nos à luta! E nesta super especial a luta seria sempre contra a tentação de fazer um bom tempo porque o muito público quer é ver espetáculo! Assim tentamos, consoante o Evo "castrado" nos deixou. Resultado? 8º melhor tempo da noite... quem diria...?
No segundo dia, um solarengo e agradável dia, perfeito para ralis, colocava-nos à frente duas passagens pelo espetacular troço de Barqueiros e também as mais técnicas classificativas de Vila Marim e Oliveira, ambas com uma passagem apenas.
Com aquela ligeira impressão de que não íamos conseguir tirar o máximo gozo deste rali, lá partimos à aventura e logo no troço inaugural (um troço em que devia ser proibido exceder os 30 km/h para poder saborear a lindíssima paisagem sobranceira ao Douro), sentimos que algo não ia bem, algo levava o nosso "clássico" a escorregar mais do que o habitual. Uma rápida análise constata que a suspensão dianteira já viu melhores dias além da errada pressão de pneus que levamos, motivada por um medidor "cansado" que deixou de dar valores certos.
Seguiu-se "Vila Marim", uma classificativa que combinava zonas rápidas com outras mais técnicas e estreitas, algumas mudanças de ritmo fortes e uma sequência final totalmente deliciosa para os sentidos. Cumprida sem sobressaltos e num ritmo agradável, seguimos para a assistência (felizmente) sem grandes obras a efectuar no carro.
A segunda ronda pelos troços do rali levava-nos à repetição de "Barqueiros", agora sim, com o carro a colar bastante melhor ao chão, com o meu companheiro de aventura a colar bastante melhor o pedal, e com o ponteiro da velocidade a colar muito melhor ao red line... em 6,45 quilómetros conseguimos baixar quase 10 segundos à anterior passagem!
Faltava apenas cumprir o pequeno troço de Oliveira com a sua subida de 4500 metros (sim, porque este troço era praticamente uma subida) e aqui uma vez mais notamos que poderia ser tão diferente com a "garra" que o Evo tinha antes da "maldade" que o curto orçamento lhe fez. Mas é o que temos e é com o que temos que vamos determinados até ao final. Troço feito sem erros, sem exageros, limpinho! E está feito o rali... alívio, satisfação e também... alguma insatisfação! Não era bem este Evo que nós queríamos, não era bem assim tão pacífico... provamos do veneno e agora estranhamos.
Mas deu para aproveitar um rali muito agradável com um excelente convívio (aqui vai já o meu agradecimento para a forma hospitaleira com que o Pedro, o Fernando e todo o staff da equipa PF Racing nos acolheu, bem como para o fantástico acolhimento que tivemos nas Casas de Campo Vila Marim, um lugar que parece deixar embaraçado o próprio paraíso!!), a habitual diversão que só os ralis nos conseguem proporcionar e, apesar dos factos que vou aqui descrevendo, muita adrenalina sempre presente!
Com o rali terminado e com o carro colocado em Parque Fechado, vêm os números: 14º classificados da geral; 3º classificados na Classe e uma importante colheita de pontos para o campeonato. Não é mau de todo mas prevalece de certa forma aquele "saber a pouco", aquela ausência da força bruta, da violência, da rapidez com que o Evo nos adocicou a boca na prova anterior e que agora teremos de nos habituar... eventualmente...
Agora as atenções viram-se para o próximo rali, um rali especial e que me dá um gozo particular enorme - o Rali de Viana do Castelo - e no qual vamos para dar o máximo (ou não fosse este o rali de casa)! Mas de Mesão Frio trouxe aquela curiosa pergunta: onde estás tu, animal..?
*por Miguel Castro - Navegador de Ralis
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