Mas desta vez isso é diferente. De repente assentamos os pés no chão e questionamos “o que raio andamos aqui a fazer”.
A semana anterior ao Rali de Famalicão, e o próprio fim de semana do rali foi um período muito complicado de gerir, muito difícil de aceitar. As notícias trágicas que nos chegaram do mundo dos ralis arrombaram-nos a mente, deixaram-nos inquietos, numa espécie de ruido silencioso que nos põe a pensar e ao mesmo tempo não nos deixa pensar.
Mas como o caminho faz-se caminhando, lá tínhamos um rali para disputar e foi com o pensamento enlutado que entramos na prova, mas com a vontade de prestar tributo a quem nos deixou de forma tão abrupta e que adorava (talvez até mais que nós) este nosso desporto.
Este ano, o Team Baia optou ainda por realizar um troço com cerca de 17 quilómetros, algo não muito comum nos ralis “regionais”, mas que a mim pessoalmente me agrada porque gosto de desafios, sobretudo os que nos fazem lembrar de como eram os ralis no antigamente. A ajudar à festa, as previsões de calor para o dia do rali faziam adivinhar que não iria ser de todo uma prova fácil.
E não foi! Bem cedo lá partimos para Famalicão para os reconhecimentos, com muita atenção aos detalhes nas notas porque neste rali isso é ainda mais importante. Duas passagens por cada um dos troços enquanto o nosso staff da Carvalhido Racing Team tratava nos bastidores de realizar as verificações e preparar tudo para a hora da verdade (obrigado malta!).
A primeira parte do troço, em pisos maioritariamente de paralelo, serviu para nos deixar um alerta! Escorrega muito, é preciso saber dosear o ritmo. Uma sequencia bastante rápida entre casas e logo passamos para o asfalto “num bocadinho de estrada” que dá mesmo muito gozo fazer depressa. Sem qualquer problema ou susto, la foi o nosso “leãozinho” até ao cruzar da meta.
“-Espetacular!! Muito boa condução, foi top!” – comentávamos mesmo ainda antes da paragem no Stop.
Bem… vamos lá para a classificativa seguinte tentando abstrair-me daquelas notícias.
Novamente, concentração, apostar num ritmo seguro e apertar um pouco mais nas zonas mais fáceis. O troço começa com uma sequencia bem gira de curvas rápidas e sentimo-nos seguros, embora com o carro a escorregar bastante. Precisávamos de pneus mais duros para o calor que estava, mas não temos e é com isso que temos de lidar.
Na assistência decidimos apostar em mudar as rodas traseiras para tentar minimizar o “escorregar do carro” nas segundas passagens. O objetivo mantinha-se: terminar o rali tentando melhorar o nosso desempenho em relação à primeira secção (como é lógico, lutar por algo mais na nossa categoria, contra “armas” bem diferentes e muito mais performantes seria uma espécie de suicídio – embora já o tenhamos feito noutras ocasiões… devíamos estar tolinhos).
Seguia-se “o carrossel” de 17 quilómetros e mantivemos a concentração para continuar dentro do mesmo ritmo. As coisas fluíam, vínhamos bem, com o carro a escorregar bastante (não foi boa aposta a mudança de rodas), e esse escorregar deu origem a uma pequena falha da nossa parte, nada de especial, mas a divertirmo-nos bastante. Pelo meio somos ultrapassados por uma bala depois de algum tempo perdido nesse pequeno erro da nossa parte (o Rafael e o Alberto vinham a voar mesmo!) mas chegamos ao final sem qualquer problema e restava agora apenas a dupla passagem pela especial noturna.
Mas regressavam as más notícias. Após a nossa passagem, um acidente “feio” a obrigar à paragem da prova e a nova intervenção dos meios de socorro. E desta vez era bem mais preocupante, bem mais sério nas consequências para os envolvidos.
É nestes momentos que nos cai a ficha. Outra vez?? Não era definitivamente a semana certa para correr… o azar parecia ter-se instalado nos ralis.
É inegável que o sucedido nos acaba por tirar motivação, e sem saber ao certo do real estado da equipa, a parte desportiva fica imediatamente para segundo plano. Aos poucos vamos sabendo “aqui e ali” de algumas atualizações do estado deles e vamo-nos acostumando à ideia de que estão em boas mãos e a ser bem tratados.
No inicio desta (já longa) crónica escrevi que nos questionamos “o que raio andamos aqui a fazer”. Pois bem… andamos aqui por uma paixão, andamos aqui porque a adrenalina é enorme, andamos aqui porque este desporto é muito mais que isso e é nos momentos difíceis que vemos o melhor do ser humano: o espirito de entreajuda, a amizade, a entrega a uma causa, e esses valores evidenciaram-se em diversos momentos neste rali, desde a evocação da memória dos que nos deixaram recentemente até aos cuidados prestados por alguns dos concorrentes a outros, aquando dos seus infelizes acidentes. Os carros são um bom pretexto para realçar todos esses nobres valores.
Foram dias difíceis, mas foram dias que nos confirmaram que os ralis são especiais.
Força Maria João, força Octávio!
Em memória de Craig Breen, Julio César Castrillo e Francisco Alvarez. Que descansem em paz!
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ResponderEliminarLi de princípio a fim e digo, somos humanos que gostamos de um desporto de risco mas que é compensado pela interajuda que falas e e as amizades que se criam, abraço parabéns Miguel
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