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terça-feira, 27 de setembro de 2022

CRÓNICA: O RALI, A GASTRONOMIA, AS PAISAGENS E A ADRENALINA

Lafões, essa região tão mágica que há anos me fascina, me motiva a conhecer e a explorar. As suas paisagens, as vilas e cidades pitorescas ou as aldeias mais recônditas, mas sempre com ar acolhedor… e que tal disputar um rali neste ambiente?

Foi com esta premissa que tive o privilégio de pela primeira vez em 2016 disputar o Rali de Vouzela e se desportivamente foi quase para esquecer, toda a restante experiência foi para recordar e repetir. Voltei em 2017 e em 2018, desfrutei enormemente da prova e fiquei satisfeito. Mas não satisfeito de vez… tinha de voltar!

Este ano, ao Município de Vouzela e ao Gondomar Automóvel Sport juntou-se numa belíssima união de esforços o Município de Viseu e deste casamento, apadrinhado pela Promolafões, resultou uma enorme festa dos ralis. O mesmo será dizer, uma reformulada prova recheada de novidades, com os já conhecidos troços da Senhora do Castelo e da Penoita (a fantástica Penoita!!) a terem por companhia duas novas e espetaculares classificativas em Viseu. Também a merecer todo o destaque a já conhecida Super Especial noturna em Vouzela, com uma moldura humana impressionante para quem está do lado de fora e também para quem “vai lá dentro” e como cereja no topo do bolo, a partida simbólica na Sé de Viseu, o final de etapa no agradável espaço junto à Câmara Municipal e a chegada final na imponente Feira de São Mateus, completando desta forma um traçado competitivo que se tornou num hino aos sentidos.


Com os ingredientes postos à vista, a vontade de voltar àquele rali traduziu-se no lançar o desafio ao piloto com quem tenho repartido quilómetros e aventuras, o José Carvalhido. Por sua vez, o Zé quis também proporcionar-me esse gostinho (muito obrigado my friend) e experimentar território totalmente novo para ele também a fim de somar mais alguma experiência com o Peugeot 206.

Partimos na sexta feira bem cedo para Viseu, diretos ao secretariado e dali diretos aos troços que eram novidade absoluta: Povolide, uma classificativa muito engraçada, desafiante, com algumas mudanças de estrada e variações de ritmo; e Aeródromo, um troço incrivelmente rápido e com zonas de cortes de trajetória que pareciam saídos de um qualquer rali de terra batida, portanto um troço de meter respeito.


Paragem estratégica a meio do dia para uma degustação dos Deuses. A maravilhosa vitela à moda do Dão, generosamente servida pelo “Porta 64” em plena zona histórica de Viseu, é de comer e chorar por mais. Recomendo a visita.

Retemperadas as forças, rumamos a Vouzela para os reconhecimentos da tarde, troços que eram novidade para o Zé, mas velhos conhecidos meus, e eis que chegamos à Serra da Penoita e à sua classificativa homónima. Este é um dos meus troços preferidos de sempre, uma verdadeira classificativa de serra com paisagens lindíssimas, rápida, com cortes, com subidas e descidas, com muitas mudanças de ritmo e após as duas passagens de reconhecimentos percebo rapidamente pela sua reação que esta passou provavelmente também a ser uma das classificativas preferidas do meu timoneiro.

O já longo dia não terminaria ainda sem uma visita à tão conhecida Feira de São Mateus, um “mundo” à parte com tanta animação, diversão, gente aos milhares e muitos “comes e bebes” à disposição.




Chegados a Sábado e ao momento da partida, o cenário é único, daqueles que todos os ralis deveriam ter: uma partida simbólica frente à Sé de Viseu, com centenas de pessoas a assistir e a aplaudir, com o colorido dos carros a enquadrar na perfeição naquela zona histórica. Muito boa a sensação de estar ali e de fazer parte daquele momento. Seguiu-se a ligação até Vouzela para enfrentar pela primeira vez a “Senhora do Castelo” e a Penoita, com a motivação em alta mas logo de seguida veio o primeiro amargo de boca: a primeira pec seria cancelada e apenas a iríamos cumprir em ligação. Mas como a seguir a uma primeira costuma vir uma segunda, “Penoita 1” seria também cancelada. Foi um balde de água fria numa motivação que fervia por pisar aqueles quilómetros de asfalto. Por momentos o desânimo tomou posse de nós e por muito que saibamos que são contingências das corridas, era difícil digerir. Seguimos então para o reagrupamento porque em seguida havia que voltar a estes troços e desta vez para competir…. E assim foi!

Senhora do Castelo, com o seu início este ano a brindar ainda o interior de Vouzela, é sempre um gozo tremendo com a sua sucessão de curvas na parte inicial, e a segunda metade a servir de verdadeiro “exame ao coração”, pois requer bastante concentração e firmeza no volante. Estavam cumpridos os nossos primeiros metros em competição, seguia-se “o tal” troço pelo qual tanto esperamos.

Mas entretanto caiu a noite e isso trouxe uma dificuldade acrescida. Mas “somos de Biana!!”

Com muita concentração, alguma cautela para evitar exageros, e um ritmo bastante agradável entramos nesta classificativa dispostos a desfrutar e a tirar proveito da maquina afinadinha pelo nosso pessoal dos bastidores (malta do caraças mesmo, incansáveis!). Metro após metro, curva após curva, o ritmo imposto vinha a melhorar e, sem falsas modéstias, creio termos feito um troço bastante bom. O gozo foi tremendo e estávamos satisfeitos por ultrapassarmos este desafio com distinção.


O dia ia já longo mas ainda faltavam disputar as duas passagens pela super especial de Vouzela, também ela renovada com um traçado em linha mais parecido com um troço comum. Muita gente a assistir, muita mesmo, com braços no ar e aplausos (só visto mesmo) e nós, ainda “embriagados” pela espetacular passagem pela Penoita, fizemos ambas as passagens sem qualquer problema e com a tabela de tempos a mostrar progressos. Terminamos o dia na 4ª posição da classe a pouco mais de 3 segundos e meio de um lugar no pódio, o que para nós significava total satisfação e excedia expectativas tendo em conta o desconhecimento do terreno. Era hora de regressar a Viseu onde os carros ficariam expostos no bonito espaço frente à Câmara Municipal, perante o olhar atento do sempre numeroso público que marcou presença.

O segundo dia de competição tinha nos troços de Povolide e do Aeródromo, desenhados ao redor de Viseu, o palco de toda a ação. Depois de uma noite de repouso, e com as energias repostas, a motivação era alta e queríamos continuar “na mesma onda”, ou seja, mostrar evolução, ser rápidos sem comprometer a segurança, terminar e tentar o melhor resultado possível.


Assim o pensamos, assim o fizemos: em Povolide 1, o meu bravo piloto desinibiu-se e foi com muita garra que cumprimos os pouco mais de 7 quilómetros desta especial, com algumas atravessadelas e muita adrenalina à mistura. Seguiu-se o fabuloso “Aeródromo”, um troço largo, de bom piso, muito rápido e com muita sujidade nas trajetórias. Perfeito para meter respeito e ideal para “lhe perder o respeito”. Voamos baixinho! Com uma pilotagem de mestria e de muita coragem, o Zé ganhou o meu respeito e admiração (que já o tinha antes mas ali excedeu-o). Foi fantástico de início ao fim e a comprovar está a ascensão ao 3º posto da classe e a subida de várias posições na classificação geral. Mas mais importante era sentirmos que estávamos a ir bem, que o nosso Peugeot estava em perfeito estado de funcionamento e que a nossa progressão era constante.

Faltavam então as segundas rondas por estes dois troços e foi no mesmo ritmo que os percorremos: a fundo, sem exageros.

Tão cedo não me esquecerei daquelas curvas a fundo com o carro a deslizar, ou dos metros finais do “Aeródromo 2” com o motor do Peugeot ao corte por vários segundos com um total acreditar de que era assim que se fazia. Espetacular, Zé! Por pouco não conseguíamos o segundo lugar na classe, apesar do terceiro lugar que conseguimos ser bem acima do que esperávamos, tal era o poderio da oposição.


Era hora de regressar a Viseu, desta vez com a Feira de São Mateus a acolher a chegada do rali com apoteose, em festa, com publico a vibrar. Uma chegada em grande perante milhares a aplaudir, cenário ideal para encerramento da festa. E é nesses momentos antes de acabar que percebo que quero mais! Quero mais ralis destes, com impacto. Quero mais ralis destes com adrenalina e com diversão. Quero mais destes ralis em que o meu piloto “fica possuído” e conduz como nunca o tinha visto conduzir antes. Sem palavras!


Resta-me dar os parabéns aos municípios que tão bem abraçaram o rali, à Promolafões pela excelente divulgação e promoção do evento, ao GAS por montar um rali que dá muito gozo disputar, e a todos os elementos da Carvalhido Racing Team porque o trabalho de bastidores, aquele que não se vê, deu frutos, valeu todo o esforço, funcionou na perfeição. Obrigado malta! Regressaremos à competição no nosso Alto Minho.

Quanto a mim, ainda mal refeito de tantas emoções, é tempo de abraçar um novo desafio. Capacete a postos… Até já!

(PS: Dedicado à pessoa responsável por me trazer aos pouquinhos de volta à escrita)

23/9/2022

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